Como a comunicação não-violenta pode transformar a nossa sociedade

Carlos Adalberto

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Você já se sentiu frustrado, magoado ou irritado com alguém que falou algo que você não gostou? Já se arrependeu de ter dito algo que machucou ou ofendeu alguém? Teve dificuldade de se expressar ou de entender o que o outro queria dizer? Nem sempre a boca fala o que o coração está cheio, por isso nos arrependemos, não é?

Se você respondeu sim a alguma dessas perguntas, saiba que você não está sozinho. A comunicação é uma das habilidades mais importantes e desafiadoras que nós, seres humanos, temos que desenvolver. E, infelizmente, muitas vezes nós nos comunicamos de forma violenta, seja intencionalmente ou não.

Mas o que é comunicação violenta? É aquela que usa palavras ou gestos que causam dor, medo, culpa, vergonha, raiva ou ódio no outro ou em nós mesmos. É aquela que julga, critica, culpa, ameaça, exige, manipula ou impõe a nossa vontade sobre o outro. É aquela que ignora, desconsidera, invalida ou desrespeita os sentimentos e as necessidades do outro ou de nós mesmos.

A comunicação violenta é muito comum em nossa sociedade, e está presente em todos os âmbitos da nossa vida: na família, no trabalho, na escola, na política, na mídia, etc. Ela é fruto de uma cultura que nos ensina a competir, a dominar, a separar, a rotular, a categorizar e a hierarquizar as pessoas. Ela é resultado de uma educação que nos faz acreditar que há certos e errados, bons e maus, vencedores e perdedores. São as consequências de um sistema que nos faz pensar que há escassez, que há inimigos, que há conflitos que não têm solução.

Mas será que existe uma forma diferente de nos comunicarmos? Será que podemos comunicar de forma que não causemos nem soframos violência? Será que podemos nos conectar com o outro de forma empática e compassiva? Será que podemos contribuir para a construção de uma sociedade mais pacífica, respeitosa e justa?

A resposta é sim. E essa forma diferente de nos comunicarmos é chamada de comunicação não-violenta.

O que é Comunicação não-violenta?

A comunicação não-violenta é uma forma de comunicação que busca criar conexões empáticas e compassivas entre as pessoas. Ela é baseada na ideia de que todos nós temos sentimentos e necessidades universais, e que podemos expressá-los e atendê-los de forma pacífica e cooperativa.

Ela foi desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, que se inspirou nos exemplos de líderes pacifistas como Gandhi e Martin Luther King Jr. Rosenberg percebeu que a forma como nos comunicamos tem um grande impacto na forma como nos relacionamos, e que muitos dos problemas que enfrentamos no mundo são causados ou agravados pela nossa comunicação violenta.

Rosenberg criou um método simples e prático para nos ajudar a praticar a comunicação não-violenta, que consiste em quatro passos:

  1. Observar sem julgar: é o primeiro passo para nos conscientizarmos da situação que estamos vivendo, sem fazer avaliações ou interpretações sobre o que o outro fez ou disse. Por exemplo, em vez de dizer “Você é um mentiroso”, podemos dizer “Você disse que ia chegar às 18h, mas chegou às 20h”.
  2. Identificar os sentimentos: é o segundo passo para reconhecermos as emoções que estamos sentindo em relação à situação, sem negá-las ou reprimi-las. Por exemplo, em vez de dizer “Você me irrita”, podemos dizer “Eu me sinto irritado”.
  3. Reconhecer as necessidades: é o terceiro passo para compreendermos as razões pelas quais estamos sentindo o que estamos sentindo, sem culpá-las ou justificá-las. Por exemplo, em vez de dizer “Você deveria ser mais responsável”, podemos dizer “Eu preciso de confiança”.
  4. Fazer pedidos claros e positivos: é o quarto passo para expressarmos o que queremos que o outro faça ou diga para melhorar a situação, sem exigir ou impor. Por exemplo, em vez de dizer “Você tem que me ligar quando se atrasar”, podemos dizer “Você pode me ligar quando se atrasar?”.

Ao seguirmos esses quatro passos, nós nos comunicamos de forma autêntica e respeitosa, e aumentamos as chances de sermos ouvidos e compreendidos pelo outro. Além disso, nós também nos abrimos para ouvir e compreender o outro, praticando a escuta ativa e empática.

O que é escuta ativa e empática?

A escuta ativa é a habilidade de ouvir com atenção, interesse e respeito o que o outro está dizendo, sem interromper, distrair, julgar, aconselhar ou criticar. Isso requer que nós nos concentremos no que o outro está falando, e que nós façamos perguntas ou comentários que demonstrem que estamos acompanhando e entendendo a sua mensagem.

Além disso, a escuta ativa fala também sobre a capacidade de se colocar no lugar do outro e compreender os seus sentimentos e necessidades, sem projetar os nossos próprios sentimentos e necessidades. Para isso, precisamos nos conectar com o outro em um nível emocional, refletir e validar os seus sentimentos e necessidades, sem tentar mudá-los ou solucioná-los.

Ao praticarmos a escuta ativa e empática, nós nos comunicamos de forma receptiva e compassiva, e aumentamos as chances de ouvirmos e compreendermos o outro. Além disso, nós também nos abrimos para sermos ouvidos e compreendidos pelo outro, praticando a comunicação não-violenta.

Por que a Comunicação não-violenta é importante para a cidadania?

A cidadania é o exercício dos direitos e deveres de cada pessoa em uma sociedade democrática. Isso implica em participar ativamente da vida pública, respeitar as leis, defender os interesses coletivos, promover a justiça social, proteger o meio ambiente, valorizar a diversidade, entre outras ações. Por isso, a comunicação não-violenta é uma ferramenta essencial para a cidadania, pois ela nos ajuda a nos comunicarmos de forma eficaz, pacífica e cooperativa com as outras pessoas, especialmente quando há divergências, conflitos ou desafios. A comunicação não-violenta nos permite:

  • Expressar os nossos direitos e deveres de forma clara e respeitosa, sem violar os direitos e deveres dos outros.
  • Escutar os direitos e deveres dos outros de forma atenta e empática, sem ignorar ou desrespeitar os nossos próprios direitos e deveres.
  • Negociar soluções que atendam às necessidades de todos, sem impor ou ceder.
  • Resolver conflitos de forma construtiva, sem recorrer à violência ou à vingança.
  • Dialogar com pessoas que pensam diferente de nós, sem perder a nossa identidade ou a nossa integridade.
  • Contribuir para a construção de uma cultura de paz, respeito e justiça social, sem reproduzir uma cultura de violência, ódio e opressão.

Essa forma de se relacionar está alinhada com os valores e princípios dos direitos humanos, que são universais, indivisíveis, interdependentes e inalienáveis.

Comunicação não-violenta e o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16

A comunicação não-violenta também está conectada com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16, que visa promover a paz, a justiça e as instituições eficazes. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são uma agenda global adotada pelas Nações Unidas em 2015, que estabelece 17 metas e 169 indicadores para serem alcançados até 2030, em áreas como erradicação da pobreza, saúde, educação, meio ambiente, igualdade de gênero, entre outras

O ODS 16 reconhece que a paz e a justiça são condições indispensáveis para o desenvolvimento sustentável, e que as instituições eficazes são meios essenciais para garantir essas condições. O ODS 16 propõe, entre outras coisas, reduzir todas as formas de violência, acabar com a violência contra crianças, promover o Estado de Direito, combater a corrupção, fortalecer a participação cidadã, assegurar o acesso à informação e proteger as liberdades fundamentais

A comunicação não-violenta pode ser usada para contribuir para o alcance desses objetivos, pois ela nos permite:

  • Combater a violência estrutural, que é aquela que está enraizada nas estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais, e que gera desigualdade, exclusão, discriminação e opressão. A comunicação não-violenta nos ajuda a identificar e denunciar as situações de violência estrutural, e a propor alternativas que respeitem os direitos humanos e a dignidade de todas as pessoas.
  • Combater a violência cultural, que é aquela que está presente nos valores, crenças, normas e símbolos que legitimam ou justificam a violência. A comunicação não-violenta nos ajuda a questionar e transformar os padrões culturais que promovem a intolerância, o preconceito, o ódio, o medo, a culpa ou a vergonha. A comunicação não-violenta nos ajuda a criar uma cultura de paz, que valoriza a diversidade, a solidariedade, a compaixão e a cooperação.
  • Combater a violência direta, que é aquela que se manifesta por meio de ações ou palavras que causam dano físico, psicológico ou moral a alguém. A comunicação não-violenta nos ajuda a prevenir e resolver os conflitos de forma pacífica, sem recorrer à agressão, à coerção, à manipulação ou à vingança. A comunicação não-violenta nos ajuda a restaurar as relações rompidas pela violência, por meio do perdão, da reconciliação, da reparação e da justiça restaurativa.

Conclusão

Neste artigo, nós vimos o que é a comunicação não-violenta, como ela pode ser praticada, e por que ela é importante para a cidadania. Nós aprendemos que a comunicação não-violenta é uma forma de comunicação que busca criar conexões empáticas e compassivas entre as pessoas, e que ela é baseada em quatro passos: observar sem julgar, identificar os sentimentos, reconhecer as necessidades e fazer pedidos claros e positivos. Nós também aprendemos que ela requer que nós pratiquemos a escuta ativa e empática, que é a habilidade de ouvir com atenção, interesse e respeito o que o outro está dizendo, e de se colocar no lugar do outro e compreender os seus sentimentos e necessidades.

Além disso, também vimos a compatibilidade entre esses valores com os valores e princípios dos direitos humanos e com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16, que visa promover a paz, a justiça e as instituições eficazes. Nós vimos que a comunicação não-violenta pode nos ajudar a combater as diferentes formas de violência que existem em nossa sociedade, e a contribuir para a construção de uma cultura de paz, respeito e justiça social.

Portanto, nós concluímos que esse tipo de comunicação é uma ferramenta essencial para a cidadania, pois ela nos permite nos comunicarmos de forma eficaz, pacífica e cooperativa com as outras pessoas, especialmente quando há divergências, conflitos ou desafios. É a única forma que nos permite expressar os nossos direitos e deveres de forma clara e respeitosa, escutar os direitos e deveres dos outros de forma atenta e empática, negociar soluções que atendam às necessidades de todos, resolver conflitos de forma construtiva, dialogar com pessoas que pensam diferente de nós, e contribuir para a transformação social.

Por isso, nós convidamos você a praticar a comunicação não-violenta em sua vida, e a disseminar essa prática em sua comunidade. Você verá que ela pode transformar a sua forma de se relacionar consigo mesmo, com o outro e com o mundo.

Perguntas frequentes

  • O que é comunicação não-violenta?

R: comunicação não-violenta é uma forma de comunicação que busca criar conexões empáticas e compassivas entre as pessoas, expressando e atendendo os sentimentos e as necessidades de forma pacífica e cooperativa.

  • Quem criou a comunicação não-violenta?

R: A comunicação não-violenta foi desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, que se inspirou nos exemplos de líderes pacifistas como Gandhi e Martin Luther King Jr.

  • Como praticar a comunicação não-violenta?

R: A comunicação não-violenta pode ser praticada seguindo quatro passos: observar sem julgar, identificar os sentimentos, reconhecer as necessidades e fazer pedidos claros e positivos. Além disso, a fala não-violenta requer que se pratique a escuta ativa e empática, ouvindo e compreendendo o que o outro está dizendo e sentindo.

  • Quais são os benefícios da comunicação não-violenta?

R: A comunicação não-violenta traz benefícios para a autoestima, a confiança, a assertividade, a cooperação, a compreensão, o diálogo, a resolução de problemas, a harmonia, a democracia, a participação, a inclusão, a diversidade e a transformação social.

  • Qual é a relação entre comunicação não-violenta e cidadania?

R: A comunicação não-violenta é uma ferramenta essencial para a cidadania, pois ela permite que as pessoas se comuniquem de forma eficaz, pacífica e cooperativa, respeitando os direitos e deveres de cada um, e contribuindo para a construção de uma sociedade mais pacífica, respeitosa e justa.

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